quarta-feira, 12 de junho de 2013

Vou ficar no Limbo



Confesso que há algum tempo que ando com medo de algo.
Não é um algo tolo ou fútil. É na verdade algo grande.
Tenho-me andado a desligar cada vez mais da Luz.
Não no sentido de me estar a tornar pior pessoa, pelo contrário.. mas no sentido de cumprir a missão que me trouxe até aqui.
Foram-me dados vários dons, vários presentes e talentos. Sou uma caixinha de truques e surpresas.
Com o dom de pintar e desenhar bem, criei a escola da minha mãe, para que ela pudesse exercer o seu sonho.
Com o dom da música, espalho sorrisos e arrepios por aí.
Com o dom do toque, saro feridas e curo dores.
Com o dom do beijo, sei levar alguém à Lua.
Com a beleza, enfeitiço homens e faço deles melhores pessoas.
Com o dom da palavra, sei levar pessoas a sonhar, sei levar o sonho ao expoente da imaginação.
Tanto dom, tanto talento.
Tudo com um propósito que eu ainda nao sei definir qual é.
Tudo isto pra dizer que tenho feito bom uso do meu conhecimento e poder, mas ainda assim, sentindo que estou a falhar no mais óbvio e mais básico pormenor de todos.
Estou a afastar-me do ventre que me originou.
Com medo de represálias, medo de sermões.
Sou uma rapariga cheia de medos.
Muitas certezas, mas muitos receios. Por vezes deixo-me levar por eles. Cada vez mais.
Centrei-me em mim.
Esqueci-me do que comecei quando ascendi.
Sinto-me renunciar a um legado do qual não posso totalmente fugir, mas do qual me tento esquivar sempre: A minha espiritualidade.
Enteiro-me de energias que ultimamente me têm deixado em baixo e cansada.
Todo um processo que dura há mil anos, desde que vim parar a esta cidadezinha estranha.
Já devia ter passado. Eu já devia ter evoluído e passado a outro patamar.
Mas não! Eu fujo, escondo-me e digo que não quero ver e saber de nada.
Quero segredo absoluto e não quero perder tempo a pensa nisso.
Sei que vou ser um dia chamada à Pedra para me perguntarem se fiz o que devia ter feito e me foi incumbido.
Sei que vou dizer que não. Sei que me vou arrepender.
Sei que vou ficar no Limbo.
Tudo porque sou fraca e cobarde e tenho medo de ver mais do que os outros.
Porque quero ser ignorante.
Não quero saber o amanhã. Não quero saber quem vai partir.
Não quero saber quando vão partir. Não quero que me procurem.
Não quero ter de ser um canal. Não quero ter de passar por isso de novo.
Quero ter medo e ser feliz.

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