Comecei cedo a fumar.
Todos os miúdos do bairro já fumavam, e na escola também, mas eu comecei sozinha.
Fumei um cigarro do meu pai e odiei aquilo. Era forte, sabia mal e não tinha filtro sequer.
Entretanto, um dia ofereceram-me um outro cigarro. Lembro-me que foi um Black Devil , aqueles cigarros com aroma a chocolate. Guardei-o e fui fumá-lo para a cozinha.
E lembro-me de que na altura eu ainda nem sabia travar!
Foi mais tarde, uma amiga minha (ou talvez não) que me ensinou a fumar.
Depois de aprender a fazê-lo, tornou-se puro estilo. Eu fumava e isso de alguma maneira fazia-me sentir badass.
Com 13 anos, era das poucas raparigas da minha idade a fumar tabaco e apesar de algumas pessoas me criticarem por isso, nunca larguei os cigarros.
A cena mais complicada veio a seguir.
Depois de ter experimentado ser rebelde a primeira vez ( e depois de ter chumbado um ano lectivo à pala disso), mudei de escola, que acabou por ser a minha perdição.
Uma coisa leva a outra. Experimentei um charro.
Gostei daquilo. Não me fez grande coisa, e eu já tinha fugido demasiadas vezes à tentação de experimentar.
Não sei se é algo dentro de nós que nos diz " Está errado, mas faz, que te vai saber bem".
Não sei é uma vozinha na nossa cabeça que nos influência, ou a história dos dois anjinhos, um em cada ombro a travar uma luta do Bem contra o Mal, à distância da nossa cabeça.
Não sei se são umas mãos que nos empurram para o abismo.
Mas com certeza são as nossas pernas que caminham até lá.
Depois do primeiro charro, surgiram outros.
Cada vez mais, cada vez mais fáceis de aguentar.. fácil demais.
Eu estava a tornar-me fácil, tal como todos os outros.
Fácil no sentido de que , tudo aquilo para que me aliciavam a experimentar, eu aceitava.
Deixei-me levar.. apanhei altas pedras, que não vale a pena mentir, ainda hoje as sinto.
Mas como tudo o que é simples, complica-se e passei para coisas mais pesadas.
Apareci em casa, mais morta que viva.
Os olhos quase fechados, pálida e cambaleante.
Os meus pulmões pesavam. A minha cabeça latia..
Lembro-me de ouvir a minha mãe dizer " Teresa , estás toda pedrada!" .
Lembro-me de rir para mim mesma e pensar " Meeeeeeeeesmo!" .
Não havia piada nenhuma, aquilo foi puro atrofio meu.
Fui levada para o Hospital.
Lembro-me de entrar nas urgências, e estar deitada na maca mais para lá do que para cá.
Tinha um braço estendido para fora da maca, e olhei uma vez para a frente, levantando a cabeça.. e vi a minha mãe chorar, agarrada ao médico.
Senti vontade de chorar, mas não sabia porquê.
O médico veio falar comigo.
Perguntou-me o que é que eu tinha andado a tomar, porque para eu estar naquele estado, teria de ser algo pior.
Eu, com a minha lábia dos 16 anos.. disse-lhe " Olhe, não sei. Mas era bem fixe."
Senti alguma coisa a escorrer-me pelo nariz e pelas pernas abaixo.
Eu estava toda dormente..
Estava a sangrar por todo o lado.
Resumidamente, e porque não quero mais relembrar o que vem a seguir, deixo uma nota pequenina a quem estiver a pensar experimentar drogas duras ou mesmo apenas charros.
O vício provém da necessidade de voltarmos a um estado despreocupado e relaxado.
Provém da necessidade que temos em esquecer os nossos problemas, nem que seja por algumas horas.
Nada contra, e super a favor.
Mas tudo com peso e medida.
Tudo com juízo e precaução.
Senão dá asneira e da grossa.
Por exemplo.. saltando a parte que não quero contar, eis o que se seguiu.
Acabei por ir para a CPCJ - Centro de Protecção de Crianças e Jovens.
Andei a ser vigiada pela polícia uma data de tempo .
Fui internada.
Perdi coisas que já nao voltam.
Perdi a relação fantástica que tinha com a minha família.
Perdi crédito, perdi a confiança de muitas pessoas e deixei por aí algures a minha dignidade.
Ainda perco todos os dias.
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