terça-feira, 18 de junho de 2013

A prece aos pais

Queridos Pais,
Escrevo esta carta por vocês ainda não me terem vindo ver aqui.
Já aqui estou há um mês e nada de vocês.
Não estou chateada, mas preciso de vos elucidar que eu ainda existo.
Quero apenas falar das minhas razões, porque sinceramente, não vos fazia nada mal perceber algumas coisas muito erradas que se passam comigo.
Talvez se faça luz e vocês entendam o porquê de tudo o que fiz, faço e farei.

 Tudo bem, nasci porque vocês me quiseram. A mãe diz que fui um bebé muito desejado, e que de noite desenhava cada parte do meu corpo, cada linha , cada traço, antes de adormecer.
Agradeço por me terem feito com amor. Isso ajuda a que não me sinta tão mal, quando vos vejo discutir.
"Pelo menos eles amam-me" penso eu.
Sei que cresci agarrada ao pai, e que segui muitos exemplos dele, e que sempre te descartei um bocado, mãe.
Sempre quis o colo do papá, os beijinhos do papá.. a companhia do papá. E tu foste sendo esquecida..
Não foi de propósito, juro. Sendo criança, não sabia escolher.
Pai, tu sempre foste muito livre, solto.. acho que herdei a sede da liberdade de ti.
E vejam bem! Tanto filho que vocês tiveram, e eu fui a única que saí artista!
Não tenho dúvidas de que vocês têm algum orgulho em mim, nem que vocês me amam.. mas vocês sempre duvidaram de mim, e nunca me levaram muito a sério .
Tu, principalmente, mãe, sempre duvidaste muito de mim.Esperas que eu seja adulta quando me tratas como uma criança.
 Acusaste-me de ter acabado com o teu casamento.
Não te tiro a razão, e perdoa-me por isso.
Cresci a ver-vos tristes, chateados e stressados a toda a hora.
Até há bem pouco tempo, via-vos como pessoas frustradas com a vida.
Obcecadas por "aquilo que devia ter sido e não foi."
Tenho 16 anos, mas sei bem que a vossa vida em conjunto nunca foi coisa fácil e que isso vos magoou muito.
Mas com os meus pequenos 16 anos, também sei admitir que não isso não é motivo para darem cabo da nossa família.
Nós não temos culpa.
Sei que foi um choque, descobriste que eu fumava, mãe.. mas olha, agora já está.
E sei que foi um choque descobrires a minha segunda vida, e que bebo e que consumo droga.. sei disso tudo.
Sei que é mau para vocês , terem-me nesta situação.
Estou aqui internada.. longe de ser curada.. e vocês nem vêm cá.
Eu sei que fiz muita asneira, que penei muito e que ainda estou a penar..
Mas sozinha não vou conseguir. Vocês sempre me disseram que eu não ia estar sozinha nunca.
Mas estão a abandonar-me AGORA! Isso deixa-me confusa..
Acho que tudo isto que fiz, e faço, é para sair desta aflição , desta tristeza imensa que sinto todos os dias quando olho para as vossas caras e da dor horrível que é saber que é por isso hoje não vos posso mais olhar.
Tornei-me em algo de que vocês ganharam vergonha.
Sei que ainda me amam, mas a vergonha é maior.
Tornei-me rebelde, livre , sem regras e fora da lei.
Tudo o que vocês não queriam.
Fiz tudo, talvez para vocês deixarem as vossas brigas estúpidas de lado, e lembrarem-se de que eu faço parte do que vos rodeia, sou parte de vocês, e preciso de amor e não de lutas.
Não que isso desculpe nada, pois não é uma desculpa.. é uma razão.
De qualquer das formas,
 " De todas as nossas más memórias, de todas as nossas brigas, 
perdoa-me, sinto muito, obrigada e te amo". <3
                                     P.S. Venham ver-me, por favor.. preciso de um abraço.
                                                 Teresinha

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