quarta-feira, 26 de junho de 2013

Perdoa

Querido Deus, sei que não costumo rezar, mas peço que oiças as minhas preces esta noite, porque não mais ninguém com quem falar.
 Hoje alguma coisa aconteceu de diferente.
Levantei-me cedo para ir tratar de assuntos meus importantes. Tu sabes, aquelas coisas que têm que ser feitas quando nos tornamos adultos. Não é meu costume, e tenho sempre tendência a dar cabo de tudo.. mas hoje consegui. Hoje fui um pouco adulta.
Estava um dia quente, e só me queria fechar em casa, no fresco.
Quis ver os meus amigos, e cheguei a combinar ir ter com eles.. mas a preguiça foi maior.
Não fui muito boa pessoa nesse sentido. Preferi passar a tarde a ver filmes do que ficar na companhia de pessoas que gostam de mim. Não me sinto muito bem nesse sentido.
Porém, a hora de almoço foi o teste mais árduo.
O pai viu O Sol.
A mãe estava indecisa entre ascendê-lo ou não. Pediu-me um conselho e eu disse-lhe que fizesse o que a sua vozinha interior lhe dizia.
Ela acabou por fazê-lo. Fui bastante adulta nas minhas atitudes.
Fomos lá para fora e ele ascendeu.
Agarrou a minha mão com força, como se tivesse medo de levantar voo. Quase ma esborrachou.
Não aguentei muito tempo lá fora.
Até porque enquanto estava de mão dada com ele, olhei para dentro de casa e não vi nada a não ser uma nuvem branca para lá da porta. O meu instinto foi dizer que "não" para a porta.
Não sei o que se passou, nem Te sei descrever.
O pai começou a ficar tonto e foi-se deitar lá para cima.
Perguntei-me se teríamos feito bem.
Perguntei-me se não me teria precipitado ao aconselhar a mãe a mostrar-lhe O Sol.
Algo dentro de mim dizia para não me preocupar. Talvez fosses Tu.
Talvez fosse Vehuiah, o meu anjo.
E tudo se deu bem. Não tive medo, e fui espreitar o pai à cama duas vezes.
Estava tudo bem, ele estava a respirar e apenas cheio de sono.
Juro que não sei de onde veio esta preocupação repentina e toda esta atenção com a minha família. Não é nada comum. Sou a mais independente, a mais desapegada.. e hoje precisei de me preocupar.
Surpreendi a mãe, que apesar de não me ter dito nada, gostou da minha companhia , e de me ter por perto para a ajudar.
Já para o final da tarde, o meu gato, o Youssef sentiu-se mal, e levámo-lo ao veterinário.
Odeio clínicas veterinárias. Estão cheias de animais perdidos.
Tal como os hospitais, com as pessoas.
Preocupei-me muito com ele. Ele aninhou-se em mim, e acalmou quando chegou a médica.
Não era nada demais. Ele já está melhor.
E quando voltámos para casa, acho que agi por Ti.
Expliquei ao pai, tudo o que ele tinha de saber acerca da Fonte.
Foi bom, e acho que ele entendeu.
Mas algo estranho se passou a seguir.
Era minha tarefa fazer o jantar, e tive de entrar no quarto da mãe para ir buscar os frutos secos.
Senti toda a minha bondade, toda a minha preocupação ir-se.
A partir daquele momento, eu já era outra.
Fui para o meu quarto, toquei umas musicas, fumei um cigarro e meditei.
Será que a minha amabilidade só dura "x" horas?
Não sou boa pessoa o tempo inteiro?
Despachei-me muito rápido para ir ter com os meus amigos.
Só pensava em beber e fumar.
O tipo de pensamentos que ao longo do dia não tinha tido nem sinal.
Confesso, Senhor.. que cometi todos esses erros e mais alguns que não adianta sequer mencionar.
Eu sei que Viste, e eu sei Sabes de tudo.
Mas agora é tarde.
Já aconteceu e já não volta.
Sei que tenho a possibilidade de me redimir amanhã.. mas amanhã vou repetir a mesma história.
Perdoa.

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