terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Boa Sorte, Charlie

Há dias em que me sinto mais em baixo, e como qualquer pessoa, tento procurar maneiras de me abstrair de certos pensamentos. As drogas são um ponto bem assente na minha vida, mas já deixaram de me fazer sentir melhor há muito.
E o que há melhor do que um animal para combater a solidão? Falei com uns amigos, e procurei , procurei, até que achei. Mas esperei tanto tempo que pensei que nunca mais iria ouvir falar em darem-me uma cadela.
Então, um dia destes em que estava sozinha em casa, triste, e sem ninguém de confiança com quem falar, recebi uma chamada.
" A tua cadela já chegou. Podes vir buscá-la!"
O meu peito quase rebentava com a expectativa, e de repente uma ansiedade enorme me invadiu.
Peguei numa manta quentinha que tenho, e fiz-me ao caminho.
Entrei na casa, e subi a escadaria toda até chegar ao quarto dos meus amigos..
À primeira vista, estava tudo como sempre : pessoal abancado em todo o lado, na cama, nas cadeiras, nos sofás.. muito fumo, muitos traços na bandeja, e o inalador a girar nas mãos das pessoas..
"Então, onde está?" - perguntei.
E a namorada do rapaz que ma tinha prometido, pegou nela e meteu-ma no colo.
Linda, linda, linda.. toda preta, com as pontas das patinhas brancas, e um risquinho branco a descer-lhe o peito. Ainda muito pequenina, com os seus 2 meses e meio, olhinhos ainda azuis do leite, e hálito a torradinhas.
Apaixonei-me logo.
Ela estava muito quietinha, provavelmente do fumo, devia estar com uma moca grande.. não se mexeu o caminho todo para casa.
Ainda me pediram pra ficar , mas quis ir para casa passar tempo com ela para a conhecer.
E de facto, a bebé cumpriu com tudo o que eu precisava.
Enquanto ela fizesse asneiras, estaria tão preocupada com ela, que me esqueceria das minhas cagadas emocionais.
Dormiu enrroscada em mim, na mesma posição que eu, e o pessoal da minha casa quando acordou e nos viu disse logo " tal mãe , tal filha".
Partilhamos o mesmo gosto por maçã, mas ela ainda gosta mais de fiambre do que eu.
O nome, foi uma complicação.
O pessoal que ma deu, queria chamar-lhe Cata.
Obviamente que disse "nem pensar". We love cata, mas há limites.
Os bacanos de arquitectura queriam chamar-lhe Carminho.
Os meus companheiros de casa queriam chamar-lhe Kaya.
E eu não me conseguia decidir. Nenhum nome jogava com o focinho dela, então deixei que o nome viesse ter com ela.
Uma noite, em casa a ver televisão, passei no Disney Channel e estava a dar uma série chamada "Boa Sorte, Charlie".
Ela começou a ladrar para a televisão, e eu perguntei " É Charlie que te chamas?"
E ela atravessou o sofá, aproximou-se, deu-me um beijinho no nariz e deitou-se para dormir.
"Charlie. É um bom nome".
Mas o que me convenceu , foi a primeira vez que a levei à rua.
Tudo muito novo, ela estava muito assustada.. só pedia colo, e apareceu uma senhora que se meteu com ela .
" Então, o que se passa pequenina? Estás a chorar porquê? Como é que te chamas?"
E expliquei à senhora que era a primeira vez que ela vinha passear, e como tal, era normal estar um pouco a assustada com tudo, mas nao lhe disse como se chamava a cadela.
E a última coisa que ela disse foi " Boa Sorte, Charlie".
Fiquei passada.
Pronto, cenas destas acontecem mesmo.
E é assim, a minha pequena labrador, agora com os seus 3 meses e meio, gorda e energética, continua a obrigar-me a não pensar em merda e a brincar.
Gosto muito dela, e toda gente também gosta.
Hoje pensei em ir comprar-lhe uns brinquedos novos, porque os velhos já se foram.
E uma coleira, porque o peitoral já não lhe serve.
E uma nova ração, porque esta que cá tenho, ela já se fartou.
É isto, a minha amiguinha de 4 patas e dentinhos agulha.
A minha Charlie.




Sem comentários:

Enviar um comentário