E o que há melhor do que um animal para combater a solidão? Falei com uns amigos, e procurei , procurei, até que achei. Mas esperei tanto tempo que pensei que nunca mais iria ouvir falar em darem-me uma cadela.
Então, um dia destes em que estava sozinha em casa, triste, e sem ninguém de confiança com quem falar, recebi uma chamada.
" A tua cadela já chegou. Podes vir buscá-la!"
O meu peito quase rebentava com a expectativa, e de repente uma ansiedade enorme me invadiu.
Peguei numa manta quentinha que tenho, e fiz-me ao caminho.
Entrei na casa, e subi a escadaria toda até chegar ao quarto dos meus amigos..
À primeira vista, estava tudo como sempre : pessoal abancado em todo o lado, na cama, nas cadeiras, nos sofás.. muito fumo, muitos traços na bandeja, e o inalador a girar nas mãos das pessoas..
"Então, onde está?" - perguntei.
E a namorada do rapaz que ma tinha prometido, pegou nela e meteu-ma no colo.
Linda, linda, linda.. toda preta, com as pontas das patinhas brancas, e um risquinho branco a descer-lhe o peito. Ainda muito pequenina, com os seus 2 meses e meio, olhinhos ainda azuis do leite, e hálito a torradinhas.
Apaixonei-me logo.
Ela estava muito quietinha, provavelmente do fumo, devia estar com uma moca grande.. não se mexeu o caminho todo para casa.
Ainda me pediram pra ficar , mas quis ir para casa passar tempo com ela para a conhecer.
E de facto, a bebé cumpriu com tudo o que eu precisava.
Enquanto ela fizesse asneiras, estaria tão preocupada com ela, que me esqueceria das minhas cagadas emocionais.
Dormiu enrroscada em mim, na mesma posição que eu, e o pessoal da minha casa quando acordou e nos viu disse logo " tal mãe , tal filha".
Partilhamos o mesmo gosto por maçã, mas ela ainda gosta mais de fiambre do que eu.
O nome, foi uma complicação.
O pessoal que ma deu, queria chamar-lhe Cata.
Obviamente que disse "nem pensar". We love cata, mas há limites.
Os bacanos de arquitectura queriam chamar-lhe Carminho.
Os meus companheiros de casa queriam chamar-lhe Kaya.
E eu não me conseguia decidir. Nenhum nome jogava com o focinho dela, então deixei que o nome viesse ter com ela.
Uma noite, em casa a ver televisão, passei no Disney Channel e estava a dar uma série chamada "Boa Sorte, Charlie".
Ela começou a ladrar para a televisão, e eu perguntei " É Charlie que te chamas?"
E ela atravessou o sofá, aproximou-se, deu-me um beijinho no nariz e deitou-se para dormir.
"Charlie. É um bom nome".
Mas o que me convenceu , foi a primeira vez que a levei à rua.
Tudo muito novo, ela estava muito assustada.. só pedia colo, e apareceu uma senhora que se meteu com ela .
" Então, o que se passa pequenina? Estás a chorar porquê? Como é que te chamas?"
E expliquei à senhora que era a primeira vez que ela vinha passear, e como tal, era normal estar um pouco a assustada com tudo, mas nao lhe disse como se chamava a cadela.
E a última coisa que ela disse foi " Boa Sorte, Charlie".
Fiquei passada.
Pronto, cenas destas acontecem mesmo.
E é assim, a minha pequena labrador, agora com os seus 3 meses e meio, gorda e energética, continua a obrigar-me a não pensar em merda e a brincar.
Gosto muito dela, e toda gente também gosta.
Hoje pensei em ir comprar-lhe uns brinquedos novos, porque os velhos já se foram.
E uma coleira, porque o peitoral já não lhe serve.
E uma nova ração, porque esta que cá tenho, ela já se fartou.
É isto, a minha amiguinha de 4 patas e dentinhos agulha.
A minha Charlie.
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